Texto: Marcos 9:14,29
“Então, Jesus lhes
disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos
sofrerei?…” (Marcos 9.19)
Introdução: Essas palavras fazem parte da narrativa em que Jesus
libertou um rapaz endemoninhado diante do apelo do pai. Justamente aquele rapaz
que alguns dos seus discípulos não conseguiram libertar. Isoladamente, essa
declaração parece uma repreensão um tanto quanto dura, mas quando analisamos o
contexto todo podemos perceber que há uma mensagem muito mais profunda contida
nela. Essa mensagem dificilmente seria percebida em uma leitura mais
superficial, pois o que se consegue ver em meio a superficialidade é apenas um
forte e acusador desabafo de Jesus.
Diante disso quero
chamar sua atenção aos versículos quatorze, quinze e dezesseis, do mesmo
capítulo nove, do evangelho de Marcos:
“Quando eles se
aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas
discutiam com eles. E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa,
correu para ele e o saudava. Então, ele interpelou os escribas: Que é que
discutíeis com eles? ” (Marcos 9.14-16).
Perceba que o mesmo
Jesus que repreendeu tão duramente seus discípulos, alguns momentos antes os
defendeu da sagacidade dos escribas. Sofreria Jesus de distúrbio bipolar? Seria
ELE esquizofrênico? Defende, ataca, ataca, defende? Não! Para entendermos
melhor, deixe-me apontar dois detalhes que apresentam claramente a postura de
correção, e não de ataque do Senhor Jesus ao declarar: “Ó geração incrédula,
até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…”.
Primeiro, as Escrituras são claras quando afirmam que os escribas discutiam com
aqueles discípulos de Jesus, os nove, que não conseguiram libertar o menino.
Essa palavra no original grego, segundo o Léxico de Strong, expressa a idéia de
uma disputa através de questionamentos, através de perguntas. A Bíblia de
Estudo Plenitude traz uma nota bastante elucidadora que esclarece bem o
versículo quatorze: “Os escribas estavam aparentemente tirando vantagem da
falha dos discípulos para libertar o garoto endemoninhado.”. Segundo, note que
essa disputa, essa postura de tirar vantagem do ocorrido, se deu entre uma
numerosa multidão, ou seja, os religiosos queriam gerar descrédito, queriam
desacreditar aqueles homens, queriam desacreditar o movimento liderado por
Jesus expondo seus mais próximos seguidores.
É justamente, em meio
a essa situação, que Jesus se impôs: “Então, ele interpelou os escribas: Que é
que discutíeis com eles?”. A maioria das versões bíblicas brasileiras utiliza a
palavra perguntou, já a versão Revista e Atualizada (RA), acertadamente usou
uma outra palavra, que apesar de não ser muito comum ao nosso português
coloquial, o português do dia-a-dia, expressa uma ênfase maior, do que apenas
perguntou. Essa palavra traduzida para o português como interpelou, no original
grego, está procurando exprimir uma abordagem bastante incisiva de alguém que
tem uma indagação, uma pergunta, é a postura de alguém que exige uma resposta para
sua pergunta. Foi essa a atitude de Jesus ao fazer esse questionamento.
Fica muito evidente o
ato protetor de Jesus naquele momento. Jesus não apenas defendeu sua missão,
mas principalmente, defendeu seus companheiros, aqueles que dariam continuidade
a sua obra. ELE queria que todos soubessem, escribas e a multidão, que aqueles
nove homens faziam parte dos seus doze homens valorosos e tinham o seu aval.
Agora, como Jesus
que protegeu seus discípulos tão prontamente, momentos depois os repreende tão
duramente?
“Então, Jesus lhes
disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos
sofrerei?…” (Marcos 9.19).
Entenderemos melhor
quando considerarmos as palavras usadas por Jesus. Marcos faz menção apenas da
expressão incrédula, mas Mateus e Lucas, ainda complementam com a palavra
perversa, ou seja, Jesus os chamou de geração incrédula e perversa.
Seja sincero(a), qual
a figura que surge em sua mente ao ouvir estas duas expressões: incrédula e
perversa? Quase que instantaneamente nos vem à ideia alguém que não crê e que
pratica o mal conscientemente, por puro prazer. Devido a isso a aparente
controvérsia de Jesus, ora defende, ora ataca. Acontece que o significado
primário dessas expressões é justamente uma referência a pessoas presas a comportamentos
de uma natureza caída. A palavra incrédula significa: “pessoa infiel, que não
se pode confiar”. E o significado de perversa: “pessoa que se desvia, se
desencaminha”, ou seja, sai do caminho.
O quadro todo recebe
uma nova luz, surge um novo entendimento: Jesus não estava apontando o dedo e
repreendendo seus discípulos por não terem libertado o menino. Ele estava
sinalizando o motivo pelo qual isso aconteceu: a infidelidade deles a ponto de
levá-los a desviar-se dos ensinos e do estilo de vida por Ele proposto. É mais
ou menos como se Jesus estivesse dizendo: “Quando vocês estão comigo operam
libertações, mas sozinhos, logo se desviam por que são infiéis.”. É justamente
aqui, que tudo começa a fazer sentido: o que levou aqueles homens a terem sido
infiéis, o que os levou a desviar dos caminhos estabelecidos pelo Mestre, o que
os fez, em meio a certa distância de Jesus, não permanecerem a altura da
vocação que haviam recebido? A resposta é bem clara, objetiva e simples: a
natureza caída, o poder dominador da natureza caída.
Segundo,
Pense comigo, poucos de nós foram ensinados nos caminhos do Senhor desde a
infância. Calcule quantos anos você foi refém da sua própria natureza caída,
influenciada pelo mundo e pelo próprio diabo. Agora pense em termos de meses,
semanas, dias, horas… Eis aí uma das evidentes razões para Jesus ter escolhido
um grupo para estar vinte e quatro horas com Ele. Eles foram chamados a uma
desintoxicação, foram chamados a purificação, chamados a uma real
transformação. Estar com ELE, para se parecer mais e mais com ELE. Jesus os
chamou para que eles experimentassem uma mudança de pensamento e comportamento,
Jesus os chamou para que não estivessem mais sujeitos a própria natureza caída.
É extremamente
necessário reconhecer que ainda somos afetados por nossa natureza caída.
Infelizmente, ela ainda exerce um domínio muito grande sobre nós. Mas a questão
é: como superar isso? Como vencê-la a ponto de não mais fazer parte de uma
geração incrédula e perversa? É simples, mas ao mesmo tempo, um grande desafio!
É preciso parar e considerar o desejo de Jesus em fazer fluir sua vida em nós.
Isso, ELE faz através de um relacionamento fundamentado na proximidade, na
intimidade, na constância em se estar junto a ELE.
Vejamos as palavras do
evangelista Marcos:
“Então, designou doze
para estarem com ele e para os enviar a pregar” (Marcos 3.14).
O primeiro interesse
de Jesus, segundo Marcos, fica bem claro: “…para estarem com ele…”.
Acompanhe
essa declaração na Nova Tradução da Linguagem de Hoje:
“Então escolheu doze
homens para ficarem com ele e serem enviados para anunciar o evangelho. A esses
doze ele chamou de apóstolos.” (Marcos 3.14 NTLH)
Você consegue perceber
a ênfase? Que tal na paráfrase conhecida como Bíblia Viva:
“Então Ele selecionou
doze deles para serem seus companheiros constantes e saírem para pregar e
expulsar demônios.” (Marcos 1.14-15 BV)
Faço minhas as
palavras da nota da Bíblia de Estudo NVI: “… O treinamento dos doze consistia
não somente em instruções e prática nas várias formas do ministério, mas também
em convívio contínuo com o próprio Jesus e comunhão íntima com ele.”
Essa é a forma, a
maneira, o modo, o jeito, de superar a natureza caída. É assim, e só assim, que
experimentaremos a liberdade: estando
com Jesus, ficando com Jesus, convivendo com Jesus!
Isso se torna mais
evidente quando entendemos a ideia por trás da palavra que foi traduzida para o
português como designou:“Tornar alguém alguma coisa”. Ou ainda: “Produzir,
tornar pronto, fazer algo a partir de alguma coisa, fazer alguém”.
Lembre-se a forte
indagação de Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até
quando vos sofrerei?…”. Foi feita aqueles que não subiram o monte com ELE,
aqueles que por um tempo ficaram afastados d’ELE, foi feita aqueles que deixaram-se
dominar pela velha e persistente natureza caída.
Terceiro. Quando falo sobre isso: “SUPERANDO A NATUREZA CAÍDA”, É preciso que isso
fique claro, quando Jesus chamou aqueles homens de incrédulos e perversos, ELE
estava apontando para o domínio que a
natureza caída ainda tinha sobre eles. Essa compreensão se torna mais lúcida
ainda ao percebermos como Jesus faz questão de defini-los: “Ó geração…”. No
original grego, de acordo com o Léxico de Strong, essa palavra expressa a
seguinte idéia: os membros sucessivos de uma genealogia. Queridos, qual era o
“pedigree” espiritual daqueles homens, de qual árvore genealógica espiritual
eles vinham, qual o DNA da espiritualidade deles? A religiosidade estéril! Seus
antepassados conheciam muito bem a religião e eram reféns de sua esterilidade.
Por isso Jesus os chamou a um relacionamento, para que eles pudessem
experimentar a liberdade dessa natureza caída que apesar da religião,
continuava geração após geração dominando e escravizando o ser humano.
Muitos não entendem
que fazer parte de uma religião, inclusive a chamada evangélica, não
possibilita essa experiência de superação da natureza caída. A maioria das
religiões tem o seu valor sociológico, a maioria das religiões estabelece um
padrão comportamental moral e ético elogiável, a maioria das religiões promove
o bem coletivo, mas nenhuma religião proporcionará liberdade da natureza caída.
Esse papel é exclusivo de Jesus.
“Disse, pois, Jesus
aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois
verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará.” (João 8. 31-32).
Quarto. O domínio da natureza caída é tão real sobre o homem, que mesmo ele
vivendo a realidade religiosa, ou até mesmo depois de dizer sim ao chamado de
seguir Jesus, ele enfrentará seus ataques. Alguns pensam que Jesus quer
reerguer a natureza caída do homem, não! Jesus é a Pedra Angular que veio para
esmiuçar, para esmigalhar essa natureza caída. Eis a razão do chamado de Jesus
ser primeiramente, em ordem e valor, para estar com ELE, conviver com ELE,
antes de trabalhar para ELE: o processo de reduzir a natureza caída ao pó, a
absolutamente nada.
Agora preste atenção,
da mesma forma que se engana quem pensa que Jesus irá reerguer a natureza caída
do homem, se engana quem pensa que esse processo de transformação é simples e
rápido. Se você continuar lendo o contexto perceberá que os homens que ouviram
da boca de Jesus: “Ó geração incrédula e perversa. Até quando estarei convosco?
Até quando vos sofrerei?”, os nove que não conseguiram libertar o rapaz
endemoninhado, juntamente com os três que subiram ao monte, momentos depois
estavam discutindo sobre quem seria o maior deles:
“Tendo eles partido
para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que
discorríeis pelo caminho? Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho,
haviam discutido entre si sobre quem era o maior. ” (Marcos 9.33-34).
Conclusão. A natureza caída só é superada num processo de
relacionamento com Jesus, um relacionamento constante, diário, genuíno: “Então,
designou doze para estarem com ele…”. É assim, é só assim, que a Pedra Angular
tornará pó à natureza caída!
,Vencer a natureza caída é um desafio é um chamado a superação,
é um chamado para estar, ficar, conviver, ser íntimo de Jesus. É um chamado
para todo aquele que mesmo entendendo e experimentando a imensurável graça e
misericórdia, o imensurável amor e perdão do Senhor Jesus, ainda assim em
determinados momentos pode ouvi-Lo: “Ó geração incrédula, até quando estarei
convosco? Até quando vos sofrerei?…”
Oremos!
pr. Alberto Santos
Muito abençoado pelas mensagens ministradas pelo senhor,prestando um culto racional,trazendo ao entendimento as revelaçoes da palavra de DEUS atraves do Espirito Santo!forte abraço!
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